Cães Pequenos e Destrutivos: Como Parar a Roedura de Móveis sem Usar Repreensões

1. Introdução

Se você tem um cão pequeno que adora roer móveis, sabe o quanto isso pode ser frustrante. Chegar em casa e encontrar a mesa ou o sofá destruído não é nada agradável. A primeira reação de muitos tutores é brigar com o cachorro. No entanto, repreensões raramente resolvem o problema — e podem até piorá-lo.

Este artigo vai te mostrar como acabar com a roedura de móveis usando métodos positivos, fortalecendo o vínculo com seu cão e ensinando o comportamento certo sem causar medo ou estresse.


2. Por que Cães Pequenos Roem Móveis?

Antes de resolver o problema, precisamos entender o que leva um cão a roer móveis. Existem várias razões, e identificar a causa ajuda a escolher a melhor estratégia. Vamos explorar os motivos mais comuns:

2.1. Instinto Natural

Roer é uma necessidade física e emocional para os cães. Filhotes, por exemplo, passam por uma fase de troca de dentes entre 3 e 6 meses de idade, o que provoca desconforto na gengiva. Roer objetos ajuda a aliviar essa sensação, massageando a gengiva e ajudando os dentes permanentes a emergirem corretamente. Se não houver opções apropriadas, eles buscarão o que estiver ao alcance — e muitas vezes isso inclui pés de cadeiras ou rodapés.

Para cães adultos, a roedura continua sendo uma atividade importante. Além de ser uma forma natural de exercício para a mandíbula, também contribui para a higiene bucal. Ao roer, o atrito ajuda a remover tártaro e manter os dentes mais limpos, algo essencial para a saúde bucal dos cães, especialmente os de pequeno porte, que têm maior propensão a desenvolver problemas dentários.

Além disso, a ação de roer libera endorfinas — os hormônios do bem-estar — o que traz uma sensação de relaxamento e conforto. Isso explica por que muitos cães recorrem à roedura quando estão ansiosos ou estressados.

Portanto, impedir o cão de roer completamente não é uma solução viável e pode até ser prejudicial ao seu bem-estar físico e mental. O segredo é oferecer uma alternativa apropriada e mais atraente do que os móveis. Mordedores de diferentes texturas, brinquedos recheáveis e até ossos recreativos próprios para cães são opções que atendem a essa necessidade de maneira saudável e segura.

2.2. Tédio e Excesso de Energia

Cães pequenos costumam ter muita energia acumulada, e isso precisa ser gasto de alguma forma. Quando não recebem estimulação suficiente — seja física ou mental — eles acabam procurando entretenimento por conta própria. Infelizmente, isso frequentemente significa roer móveis, sapatos ou qualquer coisa disponível.

Por exemplo, imagine um Chihuahua que passa o dia inteiro sozinho em casa, sem brinquedos, sem atividades e sem uma caminhada antes de o tutor sair. Para ele, o sofá ou a mesa se tornam a solução perfeita para gastar energia e aliviar o tédio. Da mesma forma, um Shih Tzu, que adora companhia e interação, pode começar a destruir objetos não por maldade, mas simplesmente porque está entediado e quer fazer algo.

Cães pequenos, apesar do tamanho, costumam ter personalidades vibrantes e muita energia acumulada. Raças como Poodle Toy, Pinscher e Yorkshire Terrier são conhecidas por seu alto nível de atividade. Eles podem até parecer contentes descansando no colo do tutor, mas isso não significa que não precisam se movimentar e brincar.

Para evitar o comportamento destrutivo causado pelo tédio, é essencial criar uma rotina rica em estímulos. Aqui estão algumas estratégias eficazes:

  • Passeios diários: Mesmo que o cão seja pequeno, ele precisa explorar o mundo. Uma caminhada de 20 a 30 minutos não só gasta energia, mas também oferece estímulos mentais — novos cheiros, sons e experiências.

  • Sessões de brincadeiras interativas: Brincadeiras de buscar a bolinha, cabo de guerra ou esconde-esconde ajudam a queimar energia e fortalecer o vínculo com o tutor.

  • Desafios mentais: Cães adoram resolver problemas. Brinquedos recheáveis, tapetes olfativos e até jogos de esconder petiscos pela casa fazem o cão usar o cérebro e se cansar mentalmente, o que é tão importante quanto o cansaço físico.

  • Treinos curtos e positivos: Ensinar truques novos, mesmo que simples, como dar a pata ou girar, estimula a mente do cão e ajuda a direcionar a energia dele de maneira produtiva.

👉 Exemplo prático: Se seu cão tem o hábito de roer o pé da cadeira à tarde, experimente oferecer um brinquedo recheado congelado antes de sair de casa. Além disso, faça um passeio pela manhã e esconda petiscos em diferentes pontos da casa. Isso vai manter o cão ocupado e menos propenso a buscar móveis para se entreter.

Ao fornecer uma rotina cheia de estímulos e atividades, o cão se sente mais realizado e relaxado. Isso diminui drasticamente a necessidade dele de encontrar ‘diversões’ destrutivas por conta própria.

2.3. Ansiedade de Separação

Cães que sofrem com ansiedade de separação frequentemente demonstram esse desconforto de forma destrutiva. Quando o tutor sai de casa, o animal pode se sentir abandonado e inseguro, o que desencadeia comportamentos como roer móveis, sapatos ou objetos pessoais que carregam o cheiro familiar. Essa atitude não é motivada por maldade, mas sim por uma tentativa de aliviar a ansiedade e encontrar conforto em um ambiente que lhe recorde a presença do tutor.

Muitos desses cães não foram acostumados gradualmente a ficar sozinhos. Em vez disso, passaram a associar a ausência do tutor a uma situação de estresse e abandono. Por exemplo, um cão que sempre foi atendido imediatamente ao sinal de alguma perturbação pode desenvolver um comportamento de pânico ao perceber que está sozinho, recorrendo à roedura como forma de lidar com a angústia.

Para reduzir esses comportamentos, é fundamental trabalhar a independência do cão por meio de treinos graduais e positivos. Algumas estratégias incluem:

  • Treino de “Despedida Gradual”: Comece deixando o cão sozinho por períodos curtos e vá aumentando o tempo gradualmente. Durante esses períodos, não faça muita festa na hora de sair ou retornar, para evitar reforçar a ansiedade.

    • Exemplo: Se o seu cão fica muito agitado quando você se prepara para sair, comece deixando-o em um ambiente seguro com um brinquedo ou petisco, e retorne após alguns minutos. Aos poucos, aumente o tempo de ausência.

  • Criação de um Espaço Seguro: Um ambiente designado onde o cão se sinta protegido pode ajudar a reduzir a ansiedade. Uma caminha confortável, brinquedos favoritos e até uma peça de roupa com o cheiro do tutor podem ser dispostos nesse espaço.

    • Exemplo: Utilize uma caixa de transporte ou um cantinho com uma cama macia e brinquedos. Se possível, deixe um item que carregue seu cheiro, como uma camiseta velha, para oferecer conforto ao cão.

  • Uso de Recursos de Estímulo: Introduzir brinquedos interativos e comedouros que estimulem o animal pode manter sua mente ocupada enquanto você está fora. Esses objetos ajudam a redirecionar a atenção do cão para atividades positivas.

    • Exemplo: Utilize um brinquedo recheável ou um tapete olfativo que libere petiscos aos poucos. Isso mantém o cão engajado e ajuda a reduzir a sensação de abandono.

  • Reforço Positivo ao Retorno: Quando retornar, mantenha uma postura calma e evite demonstrações de alívio exagerado, que podem reforçar o ciclo de ansiedade. Em vez disso, espere alguns instantes para que o cão se acalme antes de interagir e ofereça elogios e petiscos para reforçar o comportamento tranquilo.

    • Exemplo: Se o seu cão se comportar de forma calma quando você chega, recompense-o com um petisco e elogios, criando uma associação positiva com a independência.

  • Treinamento de Independência: Ensine comandos que incentivem o cão a ficar sozinho por curtos períodos, como “fica” ou “espera”, e pratique esses comandos em sessões curtas e frequentes.

    • Exemplo: Inicie com treinos dentro de casa, pedindo ao cão para ficar em um tapete enquanto você se afasta por alguns segundos. Recompense-o quando ele permanecer calmo. Com o tempo, aumente gradualmente o tempo e a distância.

Essas estratégias, aplicadas de maneira consistente e com paciência, podem reduzir significativamente os comportamentos destrutivos associados à ansiedade de separação. Lembre-se que cada cão é único, e o tempo necessário para que ele se sinta confortável sozinho pode variar. O importante é sempre manter uma abordagem positiva e gradual, evitando punições que possam aumentar o estresse.


2.4. Busca por Atenção

Cães são animais sociais e, por natureza, procuram interação com seus tutores. Eles aprendem rapidamente que certos comportamentos chamam nossa atenção, mesmo que essa atenção venha na forma de repreensão ou broncas. Quando um cão percebe que roer um móvel faz com que você se levante, venha correndo ou até mesmo brigue com ele, esse comportamento pode ser, inadvertidamente, reforçado. Afinal, para o cão, qualquer tipo de atenção – seja positiva ou negativa – acaba valendo, pois o objetivo é a interação.

Por que isso acontece?
Os cães são mestres em associar ações a consequências. Se, ao roer um objeto, ele recebe uma resposta imediata do tutor, ele passa a entender que esse comportamento é um meio eficaz de chamar atenção. Isso pode criar um ciclo no qual o cão repete a ação para obter essa resposta, perpetuando o hábito de destruir objetos.

Estratégias para lidar com a busca por atenção:

  • Evitar Reações Exageradas:
    Quando o cão começa a roer um móvel, a primeira reação do tutor pode ser um grito ou bronca. Contudo, essa reação muitas vezes serve como recompensa, pois o animal percebe que, ao roer, finalmente recebeu a atenção desejada. Em vez disso, é melhor manter a calma.

    • Exemplo: Se seu cachorro começa a roer uma cadeira, evite gritar ou fazer um alarde. Em vez disso, ignore o comportamento e espere o momento adequado para redirecioná-lo, mostrando que comportamentos destrutivos não garantem a atenção que ele deseja.

  • Redirecionamento Imediato:
    Ao notar o comportamento indesejado, chame o cão de maneira calma e ofereça um brinquedo ou uma atividade que já foi previamente associada a uma recompensa. Assim, o animal aprende que há maneiras melhores de conseguir sua atenção.

    • Exemplo: Se o cão estiver roendo um móvel, aproxime-se calmamente, segure um brinquedo interativo ou um mordedor e incentive-o a brincar com esse objeto. Assim que ele começar a interagir com o brinquedo, elogie e ofereça um petisco.

  • Reforço Positivo Consistente:
    Reforce os momentos em que o cão está se comportando de forma desejada. Isso significa dar atenção, elogios e petiscos quando ele brinca com brinquedos apropriados ou quando está calmo, sem recorrer à destruição de objetos.

    • Exemplo: Se você observar que, após um breve período de calmaria, seu cão se interessou por um brinquedo interativo que você deixou de lado, recompense-o imediatamente com carinho, um petisco ou até mesmo alguns minutos extras de brincadeira. Essa associação positiva faz com que o cão compreenda que comportamentos tranquilos e apropriados resultam em mais atenção.


  • Estabelecer Rotina de Interação:

    • Exemplo: Reserve períodos específicos durante o dia para brincar, treinar comandos simples ou apenas fazer carinho. Ao perceber que há momentos dedicados exclusivamente a ele, o cão se torna menos propenso a buscar atenção de maneira negativa, como roer móveis.

  • Ignorar Comportamentos Indesejados:
    Aprender a ignorar comportamentos negativos é uma técnica eficaz para reduzir a busca por atenção através de ações destrutivas. Isso não significa negligenciar o animal, mas sim evitar reforçar comportamentos que não são desejados.

    • Exemplo: Se o seu cão começa a roer algo e, ao mesmo tempo, tenta chamar sua atenção com latidos ou movimentos exagerados, tente não reagir de imediato. Espere alguns instantes até que ele pare o comportamento e, então, redirecione sua atenção para uma atividade mais apropriada, elogiando quando ele obedecer.

  • Ambiente Enriquecido:
    Um ambiente com brinquedos variados e que ofereça desafios mentais também pode ajudar a reduzir a necessidade de busca por atenção destrutiva. Quando o cão está entretido e estimulado, ele tem menos oportunidade de adotar comportamentos que só visam chamar sua atenção.

    • Exemplo: Deixe à disposição brinquedos que estimulem o cérebro, como tapetes olfativos, brinquedos recheáveis e jogos de puzzle. Dessa forma, mesmo quando o tutor não está por perto, o cão se sente estimulado e ocupado.


Considerações Finais:

É importante ter paciência e consistência durante esse processo. O cão pode demorar a aprender que as ações destrutivas não resultam na atenção desejada, mas sim que comportamentos apropriados trazem recompensas. O treinamento positivo e o estabelecimento de uma rotina estruturada são fundamentais para ajudar o animal a entender qual comportamento é esperado dele. Com o tempo, o cão vai aprender a se expressar de maneiras que não envolvem a destruição dos móveis, fortalecendo o vínculo entre ele e o tutor e contribuindo para um ambiente mais harmonioso em casa.


3. Abordagem Positiva para Resolver o Problema

Agora que entendemos os motivos, vamos à prática. Vou te mostrar como redirecionar o comportamento do seu cão de forma positiva e eficaz.

3.1. Redirecionamento de Comportamento

Ao invés de tentar impedir o cachorro de roer completamente, ofereça alternativas mais interessantes. Veja como fazer isso:

  • Mordedores variados: tenha brinquedos com diferentes texturas, tamanhos e materiais. Cães pequenos adoram novidades, então troque os brinquedos de tempos em tempos para manter o interesse. Por exemplo, você pode ter um mordedor de borracha macia, um de corda resistente e outro de nylon com sabor de frango. Teste para ver qual seu cão prefere e sempre deixe uma opção nova disponível.

  • Recheie brinquedos interativos: brinquedos que podem ser recheados com petiscos são ótimos para manter o cão ocupado. Um exemplo é o famoso Kong, que pode ser recheado com patê, iogurte natural ou até ração úmida e congelado para durar mais tempo. Outra opção é espalhar um pouco de pasta de amendoim sem açúcar em um brinquedo oco e deixar o cachorro se divertir tentando tirar. Se ele ficar entretido com algo que recompensa o esforço, terá menos interesse em roer os móveis.

  • Traga elementos da natureza: galhos seguros (como os de macieira ou café) e ossos recreativos próprios para cães também são opções saudáveis e interessantes para roer. Uma boa ideia é levar seu cão para passear e deixar que ele escolha um galho pequeno para trazer pra casa. Isso torna o objeto mais especial para ele, e você garante que ele terá algo seguro para mastigar.

👉 Dica prática: Quando pegar seu cão roendo o móvel, não grite. Calmamente, chame a atenção dele com um brinquedo atraente e elogie assim que ele aceitar o novo objeto. Isso ensina que o mordedor é mais recompensador que o sofá.

3.2. Estimulação Física e Mental

Um cão cansado dificilmente terá energia para ser destrutivo. É essencial garantir que seu cachorro tenha uma rotina equilibrada de atividades. Aqui estão algumas ideias:

  • Passeios diários: mesmo cães pequenos precisam sair para explorar o ambiente, farejar e gastar energia. Se o tempo estiver apertado, uma caminhada de 20 a 30 minutos já ajuda bastante.

  • Brincadeiras dentro de casa: cabo de guerra, buscar bolinhas ou esconde-esconde são ótimos para gastar energia sem precisar sair.

  • Enriquecimento ambiental: use comedouros interativos, tapetes olfativos e brinquedos que soltam petiscos lentamente. Isso desafia o cérebro do seu cão e mantém ele entretido por mais tempo.

👉 Exemplo: Um Poodle Toy que rosna o pé da cadeira pode se apaixonar por um tapete olfativo recheado de pedacinhos de frango desfiado, gastando energia mental enquanto busca a comida.

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